domingo, 28 de setembro de 2008

A caixa 

Estou na fila. Daquelas rápidas, nas quais é permitido no máximo 10 volumes. Repasso mentalmente minha lista para ver se não esqueci nada.
- Próximo!
Vou tirando as coisas da cesta, olho para a atendente, em seu crachá se lê "Érika". Tento pensar em algo engraçado, um cumprimento incomum e não rotineiro. Mas ela é mais rápida.
 - Vai querer CPF na nota?
 - Não não, obrigado.
Ela vai passando as coisas pelo leitor. Olho pra ela. As olheiras evidenciam uma noite com poucas horas dormidas. Tenho vontade de perguntar-lhe como foi seu dia, qual seu poema favorito, quantos filhos tem. Se é feliz ali... Entretanto, as palavras simplesmente não surgem, sufocam-me.
 - Débito ou crédito?
 - Débito. 
Pego minhas sacolas e minha nota. Dou alguns passos e paro. Sou dominado por um desejo excruciante de voltar-me, pegá-la pela mão e levá-la a uma terra distante, longe de notas, de cartões e de filas! Onde ela possa brincar com seus filhos. Sem olheiras. Olho para trás eufórico.
 - Vai querer CPF na nota? A fila andou, ela esqueceu-me.
Continuo meu caminho. Dou um, dois, três passos. Esqueço-a também.

3 comentários:

claaaudya disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
claaaudya disse...

muito bom! tanto o texto quanto a idéia! :)

Unknown disse...

Pra vc ver...o ser humano acaba se tornando volúvel e superficial...=(

EU queria ser uma Etezinha..